terça-feira, 18 de maio de 2010

O Pecado

O bem e o mal que fazemos não param em nós mesmos, entram e repercutem na história. Cada um de nós responderá diante de Deus pelo mal praticado e pela omissão diante do mal presente no mundo. Pecado, no sentido estrito, se diz de uma ação ou omissão da pessoa, contrariando a vontade de Deus. Em sentido analógico se pode falar em pecado estrutural para significar que o egoísmo infecta as estruturas da sociedade quando estas se constituem em benefício de um grupo ou classe social em detrimento dos outros, tornando-se assim geradoras de injustiça. Falamos então de injustiça social.

A sociedade estará organizada de forma injusta se não respeitar e promover o direito de todos seus membros. As leis civis serão justas na medida em que garantam uma ordem social que atenda ao bem comum. Não basta para o discípulo de Cristo ser na vida particular uma pessoa honesta. É necessário empenhar-se para corrigir as distorções no funcionamento da sociedade, transformando as estruturas injustas. Os legisladores são especialmente responsáveis nessa tarefa. Mas, por melhores que sejam as leis, se as pessoas não se empenharem pelo seu cumprimento, a justiça não se faz na convivência social. Estamos em plena quaresma. A segurança pública é a questão de que se ocupa a Campanha da Fraternidade deste ano. Seu lema: “a paz é fruto da justiça”. Mas de onde vem a justiça? Ela é fruto do empenho das pessoas em fazê-la acontecer. Se não houver pessoas comprometidas com a justiça, não haverá paz.

A missão evangelizadora da Igreja destina-se a transformar a humanidade. Assim ensinava na “Evangelii Nuntiandi” o Santo Padre, o Papa Paulo VI: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: "Eis que faço de novo todas as coisas". No entanto não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar homens novos, pela novidade do batismo e da vida segundo o Evangelho. A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios” (n. 18). Conversão é, pois, o sentido do empenho evangelizador da Igreja.

O pressuposto é este: todos somos pecadores e precisamos mudar nossa vida. São Paulo, na Epístola aos Romanos, ensina: “...todos, judeus e gregos, estão sob o domínio do pecado”(Rom 3,9). A antropologia paulina, ao mesmo tempo que reconhece a dignidade original do ser humano, criado por Deus em estado de justiça e santidade, entende que a desobediência, já nas origens, introduziu na natureza humana uma desordem que permanentemente tende a afastar o ser humano de Deus destruindo sua beleza original e conduzindo-o à morte. São Paulo descreve de forma dramática a condição humana marcada pelo pecado: “pois como o pecado entrou no mundo por um só homem e, por meio do pecado a morte; a morte passou para todos os seres humanos, porque todos pecaram...” (Rom 5,12). O pecado instalado dentro do ser humano, ao colocá-lo longe de Deus, deixa-o entregue à sua própria fraqueza, levando-o à prática de obras más que selam definitivamente sua decadência rumo à morte, salário do pecado. Uma cultura que estimula as paixões pecaminosas é uma cultura de morte ou, se quiserem, da morte. Ao descrever o destino moral daqueles que desconhecem a Deus e sua lei, assim se exprime São Paulo: “E, porque não aprovaram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os entregou ao seu reprovado modo de pensar. Praticaram então todo o tipo de torpeza: cheios de injustiça, iniqüidade, avareza, malvadez, inveja, homicídio, rixa, astúcia perversidade; intrigantes, difamadores, abominadores de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, tramadores de maldades, rebeldes aos pais, insensatos, traidores, sem afeição, sem compaixão.

E, apesar de conhecerem o juízo de Deus que declara dignos de morte os autores de tais ações, não somente as praticam, mas ainda aprovam os que as praticam”(Cf. Rom 1,18-32).A raiz, pois, dos males que assolam a humanidade está no desconhecimento e desprezo de Deus. É um tremendo engano pensar que a paz social será alcançada mediante leis penais mais perfeitas e aparelhamento policial mais treinado para garantir a segurança do cidadão. Isto é necessário, mas não ataca as raízes do mal. Os crimes brotam de corações plasmados por uma cultura sem Deus, muitas vezes feridos pela injustiça e pela indiferença da sociedade, dos quais desapareceu o amor e o desejo do bem. Nós, cristãos, temos a inabalável convicção que só em Cristo o ser humano pode encontrar salvação: “...como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reina pela justiça, para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor”(Rom 5,21). Sobre isso haveremos de refletir no próximo artigo.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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