domingo, 9 de maio de 2010

Discurso de Bento XVI aos Bispos da Bélgica


Bollettino della Sala Stampa della Santa Sede

Queridos Irmãos no Episcopado,

estou feliz de vos desejar uma calorosa boas-vindas por ocasião de vossa visita ad Limina, que vos conduz em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo. Essa visita é um sinal da comunhão eclesial que une a comunidade católica da Bélgica à Santa Sé. Essa também é uma feliz ocasião para reforçar a comunhão de escuta recíproca, na oração comum e na caridade de Cristo, especialmente nestes momentos em que vossa própria Igreja é provada pelo pecado. Agradeço de coração a Dom André-Joseph Léonard pelas palavras que me dirigiu em vosso nome e de todas as vossas comunidades diocesanas. Apraz-me dirigir um pensamento particular para o Cardeal Godfried Danneels, que, durante mais de trinta anos, conduziu a Arquidiocese de Malines-Bruxelas e vossa Conferência Episcopal.

Após ler os vossos relatórios sobre o estado das vossas respectivas Dioceses, eu pude mensurar as transformações que estão acontecendo na sociedade belga. São tendências comuns a muitos países europeus, mas que, em vossa terra, possui características próprias. Algumas delas, já reveladas na visita ad Limina anterior, acentuaram-se. Refiro-me à diminuição do número de pessoas batizadas que mostram abertamente sua fé e sua pertença à Igreja, o aumento progressivo da idade média dos padres, religiosos e religiosas, à insuficiência no número de pessoas ordenadas ou consagradas engajadas na pastoral ativa ou nos campos educacional e social, ao pequeno número de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada. A formação cristã, em especial das gerações mais jovens, nas questões relativas ao respeito à vida e à instituição do matrimônio e da família constituem outras questões sensíveis. Nós podemos ainda mencionar as situações complexas e muitas vezes perturbadoras relacionadas à crise econômica, ao desemprego, à integração social dos imigrantes, a uma coexistência pacífica das várias comunidades linguísticas e culturais da Nação.

Tenho observado o quanto vós sois conscientes de tais situações e da importância de enfatizar uma formação religiosa mais sólida e mais profunda. Tomei conhecimento de vossa Carta pastoral, La Belle Profession de Foi (A bela profissão de fé), inscrita na coleção Crescer na fé. Através desta carta, vós desejais incentivar todos os fiéis a redescobrir a beleza da fé cristã. Graças à oração e à reflexão em comum no que diz respeito às verdades reveladas expressa pelo Credo, redescobrimos que a fé não consiste unicamente em aceitar um conjunto de verdades e valores, mas antes em confiar em Alguém, em Deus, a escutá-Lo, a amar, e a falar com Ele, enfim, comprometer-se a seu serviço (cf. p. 5).

Um evento significativo, para hoje e amanhã, foi a canonização do Padre Damien De Veuster. O novo santo fala à consciência dos belgas. Caso contrário, seria designado pelos filhos da nação como o mais ilustre de todos os tempos? Sua grandeza, vivida no dom total de si mesmo a seus irmãos, os leprosos, a ponto de ser contaminado e morrer, reside na sua riqueza interior, em sua oração constante, na sua união ao Cristo que ele via em seus irmãos e que, como ele, entregou-se sem reservas. Neste Ano Sacerdotal, ele é um bom exemplo de entrega sacerdotal e missionária, especialmente aos sacerdotes e religiosos. A diminuição do número de sacerdotes não deve ser vista como um processo inevitável. O Concílio Vaticano II afirmou com força que a Igreja não pode prescindir do ministério dos sacerdotes. É, portanto, necessário e urgente dar-lhes o seu lugar de direito e reconhecer o seu caráter sacramental insubstituível. Daqui resulta, portanto, a necessidade de uma ampla e séria pastoral vocacional, baseada na santidade exemplar de sacerdotes, na atenção aos gérmens de vocação presentes em muitos jovens e na oração assídua e confiante, conforme a recomendação de Jesus (cf. Mt 9, 37).

Dirijo uma saudação cordial a todos os padres e pessoas consagradas, muitas vezes sobrecarregados de trabalho e desejosos do apoio e amizade de seu Bispo e seus confrades, sem esquecer dos sacerdotes em idade mais avançada que dedicaram suas vidas ao serviço de Deus e dos irmãos. Eu também não esqueço de todos os missionários. Que todos - sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos da Bélgica - recebam o meu incentivo e a expressão de minha gratidão e não esqueçam jamais que é o Cristo quem acalma qualquer tempestade (cf. Mt 8, 25-26) e restaura a força e a coragem (cf. Mt 11, 28-30 e Mt 14, 30-32) para levar uma vida santa, na plena fidelidade ao vosso próprio ministério, à própria consagração a Deus e ao testemunho cristão.

A Constituição Sacrosanctum Concilium sublinha que é na liturgia que se manifesta o mistério da Igreja, a sua grandeza e simplicidade (cf. n. 2). É importante que os padres cuidem das celebrações litúrgicas, especialmente da Eucaristia, que permitam uma profunda comunhão com o Deus vivo, Pai, Filho e Espírito Santo. É necessário que as celebrações aconteçam a partir do respeito à tradição litúrgica da Igreja, com uma participação ativa dos fiéis, segundo o papel que corresponde a cada um deles, unindo-se ao mistério pascal de Cristo.

Em vossos relatórios, vós vos mostrais atentos à formação dos leigos, através de uma inserção a cada dia mais efetiva na animação das realidades temporais. Esse é um programa louvável, que nasce da vocação de todo o batizado configurado ao Cristo sacerdote, profeta e rei. É bom discernir todas as possibilidades que emanam da comum vocação dos leigos à santidade e ao compromisso apostólico, no que diz respeito à distinção essencial entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis. Todos os membros da Comunidade católica, mas de uma forma especial os fiéis leigos, são chamados a testemunhar abertamente sua fé e ser fermento na sociedade, respeitando uma sã laicidade das instituições públicas e das outras confissões religiosas. Tal testemunho não pode ser limitado somente ao âmbito pessoal, mas deve também assumir as características de uma proposta pública, respeitosa mas legítima, de valores inspirados pela mensagem do Evangelho de Cristo.

A brevidade desse encontro não me permite desenvolver outros temas que são queridos para mim e que vós também mencionais em vossos relatórios. Termino pedindo-vos a amabilidade de transmitir às vossas Comunidades, padres, religiosos, religiosas e a todos os católicos da Bélgica minha afetuosa saudação, assegurando-vos as minhas orações por eles diante do Senhor. Que a Virgem Maria, venerada em tantos santuários da Bélgica, vos ajude em vosso ministério e vos proteja sob sua ternura maternal. A vós e a todos os católicos da Bélgica, ofereço de todo o meu coração a Bênção Apostólica.

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