quarta-feira, 9 de junho de 2010

O pagador de promessas

Certa vez, um homem cheio de problemas financeiros e judiciais prometeu solenemente que, se eles fossem solucionados, venderia a sua mansão e doaria o dinheiro conseguido com a venda para a igreja. Graças a Deus as coisas foram melhorando e todas as questões foram resolvidas. Nesta altura, porém, ele não queria mais se desfazer de tanto dinheiro. Começou a pensar como pagar a promessa sem ter tanto prejuízo. Colocou a casa à venda por uma moeda de ouro, mas junto com a casa, o comprador deveria também adquirir o cachorro que lá estava, e que o dono tinha avaliado em dez mil moedas de ouro. Poucos dias depois, apareceu uma pessoa disposta a comprar a casa e o cachorro. O comprador pagou tudo direitinho. Assim, o vendedor deu a moeda de ouro para a igreja, que era o preço da casa, e ficou com as dez mil moedas de ouro que era o preço do cachorro. Promessa é promessa.

Uma história de dívidas, mentiras e enganos. Não muito diferente da situação na qual se encontrou Jesus no evangelho deste domingo. De um lado temos um fariseu, rico, todo preocupado com as aparências e o cumprimento da Lei, incapaz de ver além dos gestos exagerados da prostituta que chorava ajoelhada aos pés de Jesus. Um fariseu tão fechado na sua pureza que nem passou por sua cabeça que o profeta Jesus pudesse enxergar aquela mulher não como uma pecadora pública, mas como uma filha de Deus, carente de misericórdia e não de julgamento. Um fariseu que devia ter convidado Jesus mais por curiosidade, ou desafio, do que por querer aprender com ele. Com efeito, apesar de todas as normas a respeito das purificações, ele não tinha oferecido água para lavar os pés de Jesus; não tinha derramado óleo na cabeça dele, e nem oferecido o beijo da saudação. Simão devia, sem dúvida alguma, desconfiar de Jesus. Acolhê-lo em casa já era muito, podiam denunciá-lo ao Conselho dos Anciãos por aquilo que estava fazendo. Passar por amigo dele? Nem pensar. Não valia a pena manchar a sua reputação.

Do outro lado está a mulher pecadora. Ela já não tinha mais nada a perder. Era conhecida demais na cidade e muitos daqueles hipócritas, que a condenavam de dia, eram seus clientes na escuridão da noite. Com a sua intuição feminina, tinha certeza de que Jesus não iria expulsá-la. Assim se jogou aos seus pés, chorando lágrimas de libertação. Algo lhe dizia que podia confiar naquele homem que todos chamavam de profeta. Os seus pecados eram grandes demais para continuar a guardá-los somente na sua consciência. Quantas vezes havia se desesperado com a sua situação. A morte por apedrejamento era um risco constante; talvez um castigo merecido pelas famílias destruídas, pelos jovens seduzidos, pelo dinheiro sujo adquirido com a venda o seu corpo. Ninguém mais a olhava como uma pessoa. Era um objeto desejado, que se oferecia a quem pagava melhor. A sua vida estava sem saída, até aparecer aquele homem que falava de perdão e de vida nova.

É nessa situação que Jesus conta a parábola dos dois devedores, e ainda pergunta a Simão quem ficou mais feliz com o perdão da dívida. “Aquele ao qual perdoou mais!”, respondeu o anfitrião. Ao menos isso ele entendeu: a gratidão daquele a quem foi perdoada uma quantia muito grande. A mulher estava consciente dos seus pecados, por isso mostrou muito amor a Jesus. O fariseu não. Por achar-se perfeito, sem precisar de perdão nenhum, perdeu a oportunidade de fazer a experiência de receber a misericórdia e perdeu, também, a de oferecer o perdão. Estava tão orgulhoso e seguro da sua superioridade a respeito da pobre mulher; por isso não amou e nem se deixou amar pelo coração misericordioso de Jesus. Ela, a condenada, a sem valor, ficou feliz. Ele, o famoso Simão, deve ter corado, por ter acolhido tão mal a Jesus. Talvez tenha ficado com raiva pela liberdade e a autoridade com a qual Jesus cumpria os seus gestos e oferecia perdão a quem o pedia arrependido.

Perdemos o senso do pecado. Não pedimos mais desculpa de nada e a ninguém. Não sabemos mais perdoar; raramente pedimos perdão. Vendemos cachorros caros para enganar e não dar aos outros o que tínhamos prometido. Desse jeito, ninguém aparecerá para nos agradecer. Não teremos nem lágrimas e nem perfume.

Dom Pedro José Conti

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